* VISCONDES e CONDES da TORRE BELA - Madeira

Breve referência aos Viscondes e Condes da Torre Bela - Madeira

Neste conjunto de apontamentos que temos realizado em relação a personalidades desta Região (Madeira) que se distinguiram no seu percurso de vida e que foram titulares de títulos nobiliárquicos, vamos destacar, de forma muito genérica e simples, aspectos do histórico dos que foram designados como Viscondes ( seis) e do(s) Conde(s) da Torre Bela, pois neste caso, constatamos notas, referindo a existência de um único e outras de dois condes.Haveremos de descortinar esta questão e eventualmente de apurar os factos.

Como ideia geral, esta família de nobres - nas várias gerações - descendem dos primeiros morgados da Madeira, herdeiros de grandes propriedades, casas senhoriais, senhores de vinhedos e plantações, distinguindo-se sobretudo pela riqueza e vivência fidalga, embora alguns distinguiram-se pela carreira militar ou diplomática, ou como conselheiros reais.

A existência de Morgados/Morgadios na Madeira teve acolhimento na legislação portuguesa nas Ordenações Filipinas (1603).Trata-se de uma forma de organização familiar, em que se congregava no morgado, os domínios senhoriais, todo o património da familia, e estes, formavam um todo, um acervo global e uno, eram inalienáveis e insusceptíveis de partilha, transmitindo-se ao herdeiro, ao varão primogénito, ou inexistindo este, ao parente mais próximo. O conjunto de bens de um Morgado constituía um vínculo, uma vez que esse património estava vinculado à perpetuação na família no ciclo geracional, de modo a obstar perdas desse universo de bens, que ia crescendo por força de casamentos senhorais, juntando morgados.

A eventualidade da alienação do morgado só era possível, em casos especiais e com expressa autorização real.

Os morgados foram extintos em Portugal por D.Luis I, por Carta de Lei de 29 de Maio de 1835.

O termo Morgado para além de se reportar a esse conjunto de bens, designava também o seu possuidor.

O Morgado da Torre Bela, da posse dos Viscondes de Torre Bela, era um dos mais importantes da Madeira, que ocupava vasta área de cultivo e de vinhedo, casa senhorial e capela, na zona de Câmara de Lobos.

Numa visão geral, muito sumária, vejamos a cronologia desta família de nobres, na sua sequência geracional:

Viscondes da Torre Bela

O primeiro visconde da Torre Bela, foi Fernando José Correia Brandão Bettencourt de Noronha Henriques (1768-1821), filho do morgado João Correia Brandão Bettencourt Noronha Henriques (1736-1780) e de D. Ana Rosa Vilhena Carvalhal Esmeraldo (1736-1780), senhores de património significativo nas freguesias da Calheta, Câmara de Lobos ( sítio da Torre) e Funchal.Foi coronel do regimento de milícias da Calheta, conselheiro do Rei D.João VI e ministro plenipotenciário em várias cidade europeias (Hamburgo, Estocolmo, Viena de Austria e Nápoles). O título de 1º Visconde de Torre bela foi instituído pela rainha D. Maria I de Portugal, por decreto de 17 de Dezembro de 1812, a premiar os contributos daquele nas relações internacionais e tinha por referência, supomos, o morgado da Torre em Câmara de Lobos,pertença daquele.

O 1º Visconde da Torre Bela - Fernando José Correia Brandão Bettencourt de Noronha Henriques, foi casado com D. Emília Henriqueta Pinto de Sousa Coutinho.

Nasceu na freguesia da Sé (Funchal) e faleceu em Nápoles, tendo os seus restos mortais sido transladados para a Capela de N.S. da Boa Hora em Câmara de Lobos( Madeira), onde foi sepultado a 11/08/1822

Deste casamento tiveram os filhos :

1. Matilde Adelaide Correia Henriques Noronha ( c/c Frederica Augusta da Câmara Leme).

2. João Carlos Correia Brandão Bettencourt Henriques de Noronha (1794-1875), militar de cavalaria, absolutista e adjunto de D. Miguel, veio a ser o 2º Visconde da Torre Bela.

3. Maria Carolina Correia Henriques de Noronha (c/c João Frederico da Câmara Leme Homem de Sousa).

4. Luis Augusto Correia Henriques de Noronha (1797-1847).

5.Emília Augusta Correia Henriques de Noronha (1799-1824).

6. Fernando Correia Henriques de Noronha

7.Henriqueta Cristina Correia Henriques de Noronha.

Destes, como se referiu, o sucessor do título de Visconde da Torre Bela, foi D. João Carlos Correia Brandão Bettencourt Henriques de Noronha, cujo titulo foi-lhe renovado por D.João VI por decreto de 14 e Julho de 1823. Seguiu carreira militar na arma de cavalaria tendo chegado a Major.Casou com a sua prima D. Isabel Joaquina Correia de Atouguia e Vasconcelos - filha herdeira do morgado João Manuel de Atouguia e Vasconcelos de Noronha ( irmã do 1º Visconde da Torre Bela). Deste casamento tiveram os filhos :

1. Maria do Carmo Correia Brandão Henriques de Noronha (1825-27).

2. Filomena Gabriela Brandão Henriques de Noronha ( 1839-1925) que será a 3ª Viscondessa da Torre Bela e a 1ª Condessa da Torre Bela, pelo casamento com o 1º Conde de Torre Bela.Foi uma importante fidalga, distinguindo-se na sociedade madeirense pela sua acção filantrópica e por ter sido um ilustre anfitrã de nobres de todo o mundo, quando visitavam a Madeira.

Foi casada com Thomaz Russel Menners Gordon (1829-1906), súbdito britânico, filho de Diogo David Webs Gordon (escocês sócio da empresa de vinhos da Madeira Cossart, Gordon, que reconstruíu a célebre Quinta do Monte) e de Teodósia Arabela Polock. O casamento ocorreu em St.John´s Wood Westminster (Londres) a 15 de Setembro de 1857.

Quanto à Quinta do Monte onde nasceu o Conde da Torre Bela - actual Quinta dos jardins do Imperador, em homenagem à passagem e hospedagem do Imperador Carlos de Àustria, nela falecido, propriedade a que está ligada esta família, bem como da presença nesta, do pintor e litógrafo/gravador Andrew Picken autor de importantes e famosas obras sobre a Madeira,memórias únicas da época e que perduram como relíquias e quadros pitorescos da vida regional de então.

Outra Quinta que foi pertença dos Torre Bela ( Dermot Bolger) é a Quinta do Conde no Arco da Calheta (Madeira) que ainda hoje existe, como unidade de alojamento rural e eventos, mas de outros proprietários (António e Celeste Teixeira -1984). Refira-se que Celeste Teixeira, figura muita querida pelas suas qualidade humanas, que era conhecida, de forma carinhosa como "condessa ", faleceu a 5 de Janeiro de 2018.

Conde de Torre Bela

De referir que Thomaz Russel Menners Gordon, foi o 3º Visconde da Torre Bela ( pelo casamento) e foi-lhe concedido o título de 1º Conde da Torre Bela, criado por D. Carlos I por decreto de 6 de Setembro de 1894, como reconhecimento dos seus serviços diplomáticos,

Foi um amante de fotografia ( Fotógrafo amador). Segundo algumas publicações da especialidade, é-lhe tribuída a descoberta das chapas de colódio seco, com base em tanino, que constituíu um processo inovador do chamado gelatino-brometo, usado mais tarde nas chapas fotográficas. Foi consultor da casa fabricante de produtos de óptica fotográfica Dallmyer e Ross (Londres).

Do seu casamento com D. Filomena Henriques Noronha tiveram os filhos :

1. Mary Arabela Ella Kenmure Correia Gordon Henriques de Noronha.

2. Isabel Constância Gordon Henriques de Noronha (1863-1947). Casou com o Barão Charles Van Beneden e depois com Joseph Gabriel Bolger.

3. Diogo Murray Kenmure Gordon Correia Henriques de Noronha , que veio a ser o 4º Visconde da Torre Bela. Solteiro e sem descendentes, seguiu a carreira diplomática, tendo sido adido de embaixada de Portugal em Berlim. Terá sido também o 2º Conde da Torre Bela ( in Elucidário Madeirense), facto de que não é claro na documentação existente.

A sua irmã Isabel Constância passou a assumir as responsabilidades da casa Torre Bela, e ao que é referido, passou a usar o titulo de Condessa de Torre Bela.

O filho desta, sobrinho de Diogo Murray, de nome Dermot Bolger,( 1900-1974) foi o seu sucessor, sem o que o título fosse revalidado.A este é atribuída a reimplantação na Madeira da casta Malvasia Cândida, que fora exterminada pela plantação desenfreada da cana -de-acúcar.

Posteriormente,do histórico desta linhagem, consta como 5º Visconde da Torre Bela D. António da Câmara Leme França Dória (1921- ?) , filho de Alberto Xavier da França Dória e Maria Eugénia da Câmara Leme, casado com Maria Madalena da Câmara Leme de França Dória a que sucedeu seu filho D. António Manuel de Castro de França Dória (1947-2002) como 6º Visconde da Torre Bela, casado com Maria José Feijó Martins Delgado

A partir deste, não existe nota e registo da continuidade da posse do título em causa, embora sejam conhecidos familiares, como é o caso de Susan Gale Bolger Sedon, descendente dos primeiros Condes de Torre Bela ( Filomena Gabriela Correia Brandão Henriques de Noronha e Thomaz Russel Mannners Gordon) tendo esta senhora em 2017 doado à Região e ao Museu da Quinta das Cruzes jóias pertencentes à primeira Condessa de Torre Bela, assim como uma aguarela de Andrew Picken representando o consul inglês James David Webster Gordon (refira-se que voltou a doar em 2019 e em 2022, desta feita uma importante jóia, constituída por um alfinete em ouro em formato de coroa de 9 bicos, ornada por pequenas pérolas ,5 diamantes e rubis).

Podemos assim resumir as personalidades titulares desta linhagem dos nobres de Torre Bela :

- 1º Visconde da Torre Bela : D. Fernando José Correia Brandão Bettencourt Henriques de Noronha (1768).

- 2º Visconde da Torre Bela : D. João Carlos Correia Brandão Bettencourt Henriques de Noronha (1794).

- 3ª Viscondessa e Condessa da Torre Bela :D. Filomena Gabriela Brandão Henriques de Noronha (1829).

- 3º Visconde e 1º Conde da Torre Bela : D. Thomaz Russel Menners Gordon ( 1829)

- 4º Visconde da Torre Bela e 2º Conde de Torre Bela : D. Diogo(James) Murray Kenmure Gordon Correia Henriques de Noronha (1865).

- 5º Visconde da Torre Bela : D. António da Câmara Leme França Dória (1921).

- 6º Visconde da Torre Bela : D. António Manuel de Castro da França Dória (1947).

Aqui deixamos este breve registo, dos titulares deste título nobiliárquico, constituindo este, dos títulos nobres mais antigos da Madeira. Este trabalho e esta anotação, estão ainda em fase de actualização, de modo a aprofundarmos a vivência desta família e do seu contributo na vida desta região,mas fica desde já sublinhado o essencial para identificar o seu percurso histórico e geracional destes nobres da Madeira.

* Rui Gonçalves da Silva (2017).