* CONSELHEIRO AIRES DE ORNELAS - Militar, Ministro, Monárquico

O conselheiro Aires de Ornelas, nasceu na Madeira, na freguesia da Camacha (Santa Cruz) a 5 de Março de 1866 e faleceu em Lisboa a 14 de Dezembro de 1930, sem descendência, sendo o seu corpo posteriormente translado para o Cemitério das Angústias no Funchal (1934).

Era filho do Conselheiro Agostinho de Ornelas de Vasconcelos (14º morgado do Caniço) e de D. Maria Joaquina Saldanha da Gama e sobrinho do prelado português Aires de Ornelas e Vasconcelos, seu homónimo, (1837- 1880) - irmão de seu pai - que foi Bispo do Funchal e Arcebispo de Goa.

O seu pai, Agostinho de Ornelas, bacharel em direito, foi par do Reino, diplomata, escritor e académico. Foi deputado pela Madeira (1868 a 1874). Apaixonado pelas letras, traduziu para português a obra de Goethe "Fausto". Morreu na Alemanha (1901) onde exercia o cargo de ministro plenipotenciário de Portugal.

O Conselheiro Aires de Ornelas foi um monárquico fervoroso da causa, militar exemplar e de referência, conhecedor da questão colonial, desempenhou cargos militares e foi Ministro da Marinha e do Ultramar no governo de João Franco, no reinado de D. Carlos I e deputado pela Madeira.

Foi por sua iniciativa que foi erguido, no seu morgado do Caniço, no Garajau (Caniço- Madeira) a escultura evocativa do Sagrado Coração de Jesus, conhecida como Cristo Rei (1927), em cumprimento de promessa e como prova da sua devoção.

O seu percurso de formação decorreu em Lisboa, onde realizou os estudos secundários, tendo posteriormente ingressado na Escola do Exército, onde conclui o curso de Estado -Maior da escola do Exército, como alferes (1889) a que se seguia uma vasta e meritória carreira militar, com campanhas em Moçambique ( participou na campanha contra o régulo Gungunhana), tendo sido considerado o oficial mais completo e competente.

Dedicou-se também à escrita, tendo desempenhado funções em várias publicações militares, tendo fundado a Revista do Exército e da Armada e director do Jornal das Colónias.

Foi Conselheiro de Sua Majestade - Rei D. Carlos I e de D.Manuel II.

Ministro da Marinha e do Ultramar no governo de João Franco ( 1906-1908) - 10º e ultimo governo do reinado de D. Carlos I.

João Franco, líder do partido regenerador liberal ( monárquico), governou num período conturbado e suscitou animosidade aos repúblicanos pela seu pendor ditatorial - ditadura de João Franco - que é considerada uma das causas para a queda da monarquia, existindo teses que defendem que o o regicídio também visava ou sobretudo visava, a eliminação do próprio João Franco.

Após o regicídio de 1908 e a queda do governo de João Franco em que era ministro, teve de abandonar o cargo.

Era monárquico convicto e uma vez implantada a República (1910), em coerência com os seus princípios e valores, pediu a demissão de Oficlal do Exército (Tenente Coronel do Estado Maior), abandonou o País e foi residir para Londres, onde desempenhou funções como lugar tenente do Rei D. Manuel II.

Mais tarde regressou a Portugal e terá participado na tentativa falhada da restauração da monarquia (1919) no conhecido episódio da "Monarquia do Norte", tendo sido preso por esse facto e posteriormente tendo sido alvo de perdão e amnistia.

Depois do assassinato de Sidónio Pais, por José Júlio Costa ( a 14 de dezembro de 1918 na Estação do Rossio em Lisboa), os monárquicos aspiravam à reimplantação da monarquia, chegando a ser criada a "monarquia do norte" no Porto (19 de janeiro de 1919), mas foi um movimento efémero, pois os designados "defensores da República velha" restauraram a Constituição de 1911 e formaram novo governo. Aires de Ornelas, à frente de um destacamento militar de cerca de 70 homens, hasteava a bandeira azul e branca da monarquia no posto de telegrafia sem fios do Monsanto, mas foram cercados e derrotados pelos militares e civis leais à república, no confronto que foi conhecido como "escalada de monsanto".

Por esta altura Portugal era devastado pela Pneumónica (1918-1919), também conhecida como "gripe espanhola", que vitimou mais de cem mil pessoas no nosso País.

Como escritor , em 1914 publicou " As doutrinas Políticas de Charles Maurras" , político e escritor francês, monárquico e defensor do nacionalismo integralista, criador da "Action francaise", a quem se atribui a defesa de ideias pró-germânicas, anti-semitas e de algum modo, segundo consta, doutrinador do que seriam, mais tarde, as ideias fascistas.

Retomou a vida política, tendo sido deputado da Nação, em representação da Madeira (1922), tendo falecido em Lisboa com 64 anos (1930), depois de uma carreira militar exemplar - foi um dos militares mais condecorados do seu tempo - e ter sido uma figura ilustre e de referência na vida política de então, desempenhando cargos e funções de relevo, ficando deste modo na história do País e da Região, facto que importa lembrar e destacar, constando a sua biografia referenciada, entre outras, na obra de Rocha Martins " Vermelhos, Brancos e Azuis" que evidenciava as figuras proeminentes do País - Homens de Estado, de Armas, de Letras.

* Rui Gonçalves da Silva - Funchal, Agosto de 2018.

Conselheiro Aires de Ornelas (1866-1930) - Monárquico, Militar, Ministro