* CONDES DE CARVALHAL - Madeira - notas breves

Breve anotação sobre a história dos Condes de Carvalhal - Madeira

Devemos conhecer, pouco que seja, das figuras históricas que fazem parte do nosso passado, daquelas personagens que estão ligadas à nossa terra, à nossa Região. Esta curiosidade deve ser presente, para nos interrogarmos sobre o passado, sobre o modo de ser e de viver de outros tempos, do percurso histórico, para assim entendermos melhor o presente e olhar, de forma mais consistente, o nosso futuro. E a história é um manancial de referências, que devemos interpelar, conhecer, para nos enriquecermos culturalmente e fazer jus aos que nos precederam, pois todo o presente, tem um passado que devemos reconhecer.

É esse olhar breve, que mantemos neste nosso site, para entender o passado, sobretudo evidenciando as personagens que de algum modo marcaram o seu tempo e nos deixaram um legado importante que devemos conhecer. Só quem conhece pode valorizar, pois só amamos e preservamos o que sabemos e isso é para nós determinante, o que explica, estes nossos simples, descomprometidos e breves apontamentos, ao sabor dos acasos e das descobertas, que vamos anotando, para referenciar factos e pessoas que integram a história desta Região.

E nessa linha de preocupação/curiosidade, surge esta anotação muito simples, sobre os Condes de Carvalhal - que foram dois - nomes e referências que pairam na vida desta Região, em designações de ruas, em registos históricos, em lendas, o que justifica esta sucinta e breve nota, para uma ideia geral destas personagens, retendo o essencial das suas vidas e obras.

1º CONDE DE CARVALHAL

O Título nobiliário de CONDE DE CARVALHAL foi criado pela rainha Dª. Maria II, por Decreto e Carta de 13 de Outubro de 1835, em favor e reconhecimento da ação em defesa da causa liberal e da importância da sua vida e obra de apoio aos mais humildes, do morgado e abastado proprietário agrícola madeirense João José Xavier de Carvalhal e Vasconcelos de Atouguia de Bettencourt de Sá Machado ( 1778-1837), a quem foi concedido o titulo de 1º Conde de Carvalhal da Lombada, filho de João do Carvalhal Esmeraldo de Atouguia e Câmara ( fidalgo da Casa Real) e de Isabel Maria de Sá Accioiulli.

Relembra-se que D. Maria II foi rainha de Portugal, com o cognome de " a Educadora" e " A Boa Mãe", reinando em dois períodos distintos, da primeira vez tinha apenas 6 anos de idade, de Maio de 1826 a Junho de 1828, até ser deposta por seu tio D. Miguel, noivo e regente, e posteriormente de 1834 até à sua morte em 1853, com 34 anos, de parto.Era a filha mais velha de D.Pedro I do Brasil e que reinou em Portugal como D.Pedro IV e da arquiduquesa Maria Leopoldina de Áustria, que passou na Madeira, na sua viagem para o Brasil e foi hóspede do 1º Conde de Carvalhal.

O 1º Conde de Carvalhal era um abastado proprietário da Madeira, mas viveu uma vida sem luxo, nem fausto, sobretudo sem ostentação e ao que consta ajudava os pobres

Das suas propriedades na Madeira é famosa a herdade do Palheiro Ferreiro, que mandou construir numa zona periférica da cidade do Funchal, numa área florestal, exuberante de vegetação, onde antes existia um casebre de colmo onde vivia e trabalhava um engenhoso ferreiro ( o que deu origem à designação desse local , ou seja, Palheiro Ferreiro). Esta quinta era ao tempo uma zona de caça e de casa de veraneio, circundada com vastos jardins, de uma beleza rara.

O 1º Conde de Carvalhal esteve ligado às ideias liberais e no conflito miguelista, teve de emigrar para Inglaterra, quando a Madeira foi ocupada pelas forças miguelistas.

Regressou à Madeira, quando foi estabelecido o Governo Constitucional (1834), sendo então concedido o titulo de Conde de Carvalhal da lombada em 5 de Setembro de 1834, tendo posteriormente assumido as funções de Governador Civil do Funchal em 13 de Setembro de 1835.

O 1º Conde de Carvalhal - João José Xavier de Carvalhal e Vasconcelos de Atoguia de Bettencoiurt de Sá Machado - morreu solteiro,a 11 de Novembro de 1837, com 59 anos, não deixando assim descendentes diretos, sendo por isso seu herdeiro, quer do título, quer das suas propriedades, o seu sobrinho-neto, que tinha na altura apenas 6 anos de idade, que viria a ser o 2º Conde Carvalhal,

2º CONDE DE CARVALHAL

António Leandro da Câmara Carvalhal Esmeraldo Atouguia Bettencourt de Sá Machado , foi o 2º Conde de Carvalhal, titulo concedido por Decreto de D.Pedro V de Portugal, tendo nascido no Funchal a 6 de Outubro de 1831, era das mais nobres familias da Madeira, filho de João Francisco da Câmara Carvalhal Esmeraldo de Atouguia Bettencourt de Sá Machado ( fidalgo da Casa Real) e de D. Teresa Xavier Botelho.

Fidalgo brilhante, generoso e bom, temperamento de artista, foi um bom-vivant, dado a festas e bailes, ao convivio social,muito viajado, pelas principais capitais europeias,gastando fortunas nessa vida de fausto e glamour.As suas festas na Quinta do Palheiro Ferreira foram muito famosas e arrojadas.

Casou em 1834 com D. Matilde Montufar Infante, filha dos marqueses de Selva Alegre (Espanha) e teve duas filhas: Maria das Dores da Câmara Leme do Carvalhal e Vasconcelos de Sá Machado e Teresa da Câmara Leme do Carvalhal Esmeraldo de Bettencourt e Vasconcelos de Sá Machado.

Em Janeiro de 1860 organizou festa em homenagem à arquiduquesa Carlota de Saxe (1840-1927), que viria a ser imperatriz do México,na sua passagem pela Madeira.

O Principe Maximiliano de Áustria em Abril de 1864, passou pela Madeira, a caminho do México, na companhia da imperatriz Carlota.

o 2º Conde de Carvalhal envolveu-se também na vida política, tendo sido Presidente da Câmara Municipal do Funchal, mas perdeu eleições em que se candidatou como representante da Madeira.

o 2º Conde de Carvalhal tinha um estilo de ser e de vida muito distinto do seu antecessor seu tio, uma vida dado a vivência social, às festas. Era tido como muito simpático, elegante e um aristocrata que cultivava as relações sociais e mordomias da vida. Passava pouco tempo na Madeira, pois viajava muito para Lisboa e capitais europeias. Com esta forma de vida, com gastos excessivos e devaneios, delapidou o património herdado.

A herdade/Quinta do Palheiro Ferreira ex-libris da aristocracia insular, onde se realizaram festas e onde se hospedaram personalidades, acabou por ir a hasta pública e adquirida por John Burden Blandy em 1889 e a partir de então tem pertencido à familia inglesa Blandy até aos dias atuais, sendo uma importante e requintada unidade turística, bem enquadrada na natureza, sobranceira à cidade do Funchal e com jardins circundantes esplendorosos e exuberantes de rara beleza.

Refira-se que antes do 25 de Abril, as comemorações do dia 1º de maio na Madeira -Dia do trabalhador- que não tinham o cunho político dos nossos dias, ocorriam em áreas da Quinta, do Palheiro Ferreiro, que a família Blandy facultava à população local -- sinal da influência inglesa e do poder económico dominante - para comemorarem este Dia, que tinha um pendor mais evocativo de festa e de feriado, dia de piquenique, de convívio no campo e era conhecido como dia " de Saltar a laje", em alusão irónica e popular aos homens ditos vitimas de adultério e que com os seus "adornos" crâneanos, prova das infidelidades conjugais, divertiam-se nessa oportunidade, saltando as fogueiras.

Ainda tendo como referência os Condes de Carvalhal, como curiosidade, destaca-se que no Funchal existe uma artéria muito conhecida, pela importância histórica desta via, pela sua extensão e porque foi durante muitos anos estrada de acesso ao aeroporto - agora secundarizada pelas ditas vias rápidas, auto-estradas locais - a Rua Conde de Carvalhal - que homenageia o 2º Conde de Carvalhal - António Leandro Carvalhal - presidente da Câmara Municipal do Funchal entre 1879 e 1887.

O 2º Conde de Carvalhal faleceu em 1888, no Palácio de S.Pedro, no Funchal, em decadência financeira e infortúnio, doente e com 56 anos, depois de uma vida de esplendor e gastos.

Após a implantação da República em Portugal e com o fim do regime nobiliárquico, usaram o titulo: D. Maria José de Castro Pamplona ( 3ª Condessa do Carvalhal) e D. João de Castro de Mendia ( 4º Conde do Carvalhal).

A vida dos dois Condes de Carvalhal,como sucintamente evidenciámos, foi bem diferente uma da outra, na forma de ser e de viver, contudo ambos marcaram a seu modo, a vida do seu tempo e ficaram para a história, particularmente da vida da Madeira e que por isso aqui referencio, como homenagem e memória, independentemente de juízos de valor, sobre as pessoas, a vida e as causas.

* Rui Gonçalves da Silva /Madeira - 2017