*Padre Agostinho Jardim Gonçalves (1932/2024): Uma Vida pelas causas sociais, pela valorização e dignificação do mundo do Trabalho
*Padre Agostinho Jardim Gonçalves (1932/2024): Uma Vida pelas causas sociais, pela valorização e dignificação do mundo do Trabalho
Padre Agostinho Jardim Gonçalves (1932/2024): Uma Vida pelas causas sociais, pela valorização e dignificação do mundo do Trabalho
Introdução
Nesta minha inventariação e referência, a personalidades da Madeira, que se distinguiram, pelas suas qualidade e competência, pelo seu percurso de vida e pela singularidade desta, incluo este apontamento ,notas da vida e obra do Padre Jardim Gonçalves (1932/2024) recentemente falecido com 92 anos, pelas causas a que se dedicou, seja no plano das condições de vida dos trabalhadores e do seu associativismo sindical - particularmente em conjuntura difícil do regime do Estado Novo, onde a própria Igreja e seus representantes, tinham dificuldade de agir em defesa dos princípios da doutrina social - quer na dinamização de movimentos de católicos, ligados ao mundo do trabalho, bem como no domínio de organizações de apoio social.´
Foi, ao longo da sua vida, quer sacerdotal, quer de cidadania, alguém que marcou o seu tempo, em defesa de causas sociais nobres – no mundo do trabalho, em favor dos desfavorecidos e dos direitos humanos, no combate à pobreza e desigualdades sociais - como voz e agente de uma igreja renovada, empenhada e solidária com tais valores.
Vida e Obra
Agostinho José Luís de Jesus Jardim Gonçalves, nasceu no Funchal, no dia 26 de janeiro de 1932, na Diocese do Funchal, na freguesia de Santa Maria Maior, Madeira, filho de Agostinho Carlos Gonçalves (1900-1990), comerciante, e de Maria Bernardete Estêvão de Sousa Jardim (1899-1989), professora e proprietária de um colégio (Externato Júlio Dinis). Faleceu em Lisboa, a 22 de Dezembro de 2024.
O casal teve quatro filhos: o Agos, como era tratado pela família e amigos, Agostinho Jardim Gonçalves, os gémeos Vicente e Luís Hilário, e o mais novo, Eng. Jorge Jardim Gonçalves, banqueiro, fundador do Banco Comercial Português.
O pai era músico violoncelista nas festas religiosas na freguesia de Santo António do Funchal, era um excelente músico que fez parte do septeto Passos Freitas.
Jardim Gonçalves, entrou para o Seminário da Diocese do Funchal, em 1943.
Fez o curso geral do seminário na diocese do Funchal sendo ordenado presbítero no dia 22 de setembro de 1956, após o que é nomeado para a Paróquia do Machico. Vive os primeiros quatro anos de padre como coadjutor da paróquia, assistente diocesano da Juventude Agrária Feminina (JACF), professor no liceu Jaime Moniz do Funchal e chefe de redação do Jornal da Madeira, entre agosto de 1957 e 1960.
Machico foi a primeira paróquia que o bispo do Funchal lhe confiou, após a ordenação sacerdotal, localidade rural e piscatória, de gente simples e humilde, onde se apercebeu do que era a miséria dos mais desprotegidos, e a dignidade dos trabalhadores, aspectos que marcaram para sempre a sua vida e sua missão humano-sacerdotal, pois ao longo da sua vida, destacou-se pelo compromisso com a justiça social e a dignificação dos trabalhadores,
O facto de ser assistente da JACF, levou-o a participar no congresso do Movimento Internacional da Juventude Católica Rural, realizado em Lourdes, maio de 1960, sob o lema “A Fome no Mundo nos seus múltiplos aspetos”. A sua prestação, naquele fórum, surpreendeu os participantes e o cardeal Cerejeira chama-o, em 1960, para trabalhar no patriarcado de Lisboa.
Aos 28 anos de idade, com apenas quatro de sacerdócio, o cardeal Cerejeira entrega ao jovem padre Jardim Gonçalves, o acompanhamento nacional da Juventude Operária Católica Feminina (JOCF) e, posteriormente, a Liga Operária Católica (LOC).
Foi também eleito assistente do Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos -MMTC (1967/1970), do que foi reconduzido, por nomeação da Santa Sé, para o quadriénio 1971/1974.
Em Lisboa, foi professor do Instituto Superior de Estudos Teológicos, escola fundada por Ordens Religiosas para o ensino da Teologia, e exerceu como pároco de Alfornelos (Vigararia Amadora), seis anos (1984-1990), e foi também presidente da assembleia-geral do Centro de Formação e Tempos Livres (CFTL); foi ainda membro nato do Conselho Presbiteral e diretor do ‘Vida Católica’
A nível internacional, o padre Jardim Gonçalves foi cofundador do Centro de Estudos do Desenvolvimento da América Latina (CEDAL), com Paulo Freire e Herryanne de Chaponay, sendo responsável pelo Sector América Latina do CCFD - Comité Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento.
Em 1998, foi nomeado responsável do Secretariado de Comunicação Social do Patriarcado de Lisboa, pelo então cardeal-patriarca D. José Policarpo, de quem foi chefe de gabinete, tendo dinamizado o Centro Cultural do Patriarcado.
Desempenhou cargos no Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos, no Comité Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento na América Latina ou na Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos portugueses.
Na década de 1980, Jardim Gonçalves foi um dos fundadores da Oikos, organização não governamental dedicada às questões da cooperação e do desenvolvimento, numa altura em que, em Portugal, não abundavam organizações em tal área. Praticamente sem trabalho pastoral atribuído pela hierarquia católica, manteve-se durante mais de dez anos a trabalhar com a Oikos e em várias organizações internacionais.
Fundara a Oikos, juntamente com outras personalidades de diferentes confissões religiosas e alguns agnósticos humanistas, refletindo o seu espírito ecuménico, universalista e humanista. A sua visão e dedicação foram fundamentais para a criação e consolidação desta organização, que desde então tem trabalhado incansavelmente em prol do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, no País e no mundo.
No âmbito das suas funções de Secretário-Geral da Oikos, o Pe. Agostinho Jardim Gonçalves, liderou o Comité de Liason (antecessor da CONCORD) uma rede europeia que reunia as Plataformas Nacionais das ONGD dos países da União Europeia. Nesse contexto, contribuiu para fortalecer o movimento das Organizações europeias de Cooperação, lutando insistentemente por políticas europeias humanistas e promotoras do espaço cívico e da solidariedade entre os Povos.
A Oikos – Cooperação e Desenvolvimento, é uma Associação sem fins lucrativos, reconhecida internacionalmente como Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD), fundada em Portugal em 1988.
A OIKOS, tem como referências estatutárias:
Valores: Acreditar num mundo sem pobreza e injustiça, onde o desenvolvimento humano seja equitativo e sustentável à escala local e global. Por isso, assumir como missão, erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades para que todas as pessoas usufruam do direito a uma vida digna.
VISÃO: Um mundo sem pobreza e injustiça, onde o desenvolvimento humano seja equitativo e sustentável, à escala local e global.
MISSÃO: Erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades para que todas as pessoas usufruam do direito a uma vida digna.
AMBIÇÃO: Ser reconhecida como uma organização internacional, líder no desenvolvimento de soluções sustentáveis, para erradicar a pobreza.
(Oikos (grego:οἶκος, plural: οἶκοι) o equivalente ao termo "agregado familiar" na Grécia Antiga, é o conjunto de bens e pessoas que constituía a unidade básica humana desde antes do surgimento da primeiras pólis gregas, formado pela família em sentido amplo (mais além da família nuclear) incluindo esta, desde a cabeça do oikos (o telestai -geralmente homem sénior, e por isso inspirando a figurado paterfamilias romano) até os aos ajudantes e os animais que viviam juntos no ambiente doméstico).
Uma vida de empenho nas causas sociais
O Padre Jardim Gonçalves, ao longo da sua vida, destacou-se pelo compromisso com a justiça social e a dignificação dos trabalhadores, tendo desempenhado funções como Assistente Nacional da Juventude Operária Católica Feminina e da Liga Operária Católica.
Foi uma personalidade singular, acompanhou antes e depois do 25 de Abril de 1974, todo o processo de criação do Centro de Cultura Operária (CCO), enquanto organismo para a formação social, cívica e sindical dos militantes trabalhadores dos movimentos operários da Ação Católica, acompanhou a criação do grupo BASE, na clandestinidade.
Quando da Revolução de 1974, teve um papel muito ativo, integrando a redação do jornal “República”, onde foi um dos dois jornalistas que apoiaram os trabalhadores gráficos. no chamado "caso República", fazendo parte do grupo Cristãos em Reflexão Permanente, que juntou leigos e sacerdotes, que produziram uma análise, sobre a realidade social e política naquela época em Portugal.
O trabalho realizado com operários e trabalhadores católicos, portugueses, nomeadamente com a criação do Centro de Cultura Operária, a publicação dos Cadernos de Cultura Operária, na década de sessenta do século passado, dão-lhe dimensão internacional, sendo nomeado Assistente do Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos, tendo sido reconduzido para novo mandato pela Santa Sé.
Solidário, sempre preocupado com problemas sociais, integrou o grupo de cidadãos que, em 1969, constituíram a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos.
Em 1972, esteve na criação do Grupo Base, na clandestinidade, tendo participado no plenário fundador da BASE-FUT, na Costa da Caparica, organismo que teve a sua génese, nos movimentos da Ação Católica, de que era assistente.
O Movimento que viria a tomar o nome de BASE foi criado com objectivo da promoção cultural dos trabalhadores, tendo a formação e a ação sindical, como pilares basilares da luta em prol da liberdade, e da defesa e promoção dos interesses e direitos dos trabalhadores.
Reconhecendo o trabalho de evangelização do padre Jardim Gonçalves, em 1974, o Papa Paulo VI nomeou-o, a título pessoal, perito do Sínodo dos Bispos, sobre a Evangelização no Mundo Moderno, de que foi secretário.
Os bispos franceses distinguiram os elevados méritos do padre Jardim Gonçalves, sendo por isso nomeado, em 1978, encarregado da Missão para a América Latina, no Comité Católico Contra a Fome e pelo Desenvolvimento, com sede em Paris.
Num artigo publicado no “DN/Madeira” na edição do dia de Natal de 1974, , com o título “Este Natal para este homem português”, Jardim Gonçalves faz a apologia da “libertação total”, “duma sociedade sem escravos”: “Se de libertar se trata, então as opções apontadas são claras. Trata-se de libertar oprimidos e explorados, o que, na linguagem do nosso tempo, e no contexto sócio-político do nosso país, significa mudar radicalmente as estruturas da sociedade, cujos mecanismos provaram estar ao serviço duma opressão planificada e dum esmagamento organizado”.
Nesse artigo, refuta a ideia “dum Cristo neutro”, afirmando: “Nada mais anacrónico do sinal libertador que foi e é o Natal que essa ideia feita, tão ao gosto de certa Igreja «reconciliadora», segundo a qual «Cristo veio e é para todos», ricos ou pobres. Se a afirmação é objectivamente verdadeira, a intenção política que ela esconde e as atitudes práticas que ela desencadeia contradizem a riqueza do seu conteúdo. Cristo veio para libertar todos os homens, mas essa libertação passa necessariamente pela luta que os oprimidos têm de travar para gozarem do Sol tonificador da liberdade e pela renúncia sincera, por parte dos ricos, a bens que os alienam e que os tornam em domesticadores cínicos dos pobres e dos fracos”.
Padre da Pastoral Operária nacional e internacional
No decurso da sua ação apostólica, é de evidenciar o seu comprometimento na evangelização da classe trabalhadora e seu dinamismo empreendedor, na ação empenhada, com que se dedicou à dinamização da Pastoral Operária.
Ação que teve a sua concretização na realização da III Semana de Pastoral Operária, realizada em Lisboa, em 1967 (composta paritariamente por 50 sacerdotes e 50 leigos), em trabalho de grupos, promovendo amplas reflexões, cuja oportunidade e validade, ficou expressa nas Conclusões Finais constantes de um Relatório, que continua de inegável atualidade.
O labor pastoral do Padre Jardim, em Portugal, como Assistente dos Movimentos Operários Cristãos, mereceu reconhecimento internacional, quando após a dissolução da FIMOC - Federação Internacional dos Movimentos Operário Cristãos - foi eleito Assistente do Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos - MMTC (1967/1970), e, posteriormente, ao ser reconduzido, por nomeação direta da Santa Sé, para o quadriénio (1971/1974).
Movimentos católicos
A Liga Operária Católica (LOC) é a par da Juventude Operária Católica (JOC), um Movimento da Igreja, no Mundo Operário. Um Movimento de trabalhadores, dirigido por trabalhadores, que como afirmou o Cardeal Policarpo: “…não abandonaram, nem renegaram, o realismo do mundo do trabalho; procuraram repassá-lo da frescura evangélica, caminho de justiça, de fraternidade, de luta pela dignidade da pessoa humana”.
A LOCF (Liga Operária Católica Feminina) fundada em 1934, face à menorização das mulheres trabalhadoras portuguesas, das limitações impostas pelos serviços domésticos, de mães, e da elevada percentagem de mulheres “donas de casa”, acrescido ao facto de, nos seus primeiros anos de atividade, o Movimento ter sido dirigido por mulheres de outros meios sociais. Acresce que só em 1947 (11 anos após a fundação) foi nomeada para Presidente uma mulher do meio trabalhado, fatores que justificam só tão tardiamente este Movimento alcançar a identidade locista.
A LOC/MTC – Liga Operária Católica / Movimento dos Trabalhadores Cristãos - foi fundada em Portugal em 1936, como movimento especializado de Ação Católica ao serviço dos trabalhadores e da Igreja. Participa na construção da Igreja, sobretudo no mundo do trabalho, pelo anúncio explícito da Boa Nova de Jesus Cristo, pela Santificação dos seus militantes, pela formação das consciências, de acordo com os critérios do Evangelho, procurando em toda a sua ação, descobrir e celebrar o mistério de Jesus Cristo, presente na vida dos trabalhadores e informar de espírito evangélico o meio operário.
A LOC e a JOC são “movimentos de acção católica”, com ligação profunda à Acção Católica, embora a formalidade e o estatuto dessa ligação tenham variado ao longo do tempo. A ideia de acção católica é moderna e visa reagir à emancipação das sociedades em relação à tutela religiosa e clerical. De certa maneira, aspira à restauração católica através da acção esclarecida dos católicos, particularmente dos leigos, mas sujeitos à autoridade episcopal, é um catolicismo social, inspirado na Doutrina Social da Igreja (DSI), apontado ao reformismo interclassista dentro de uma “concepção corporativa da sociedade”. Em Portugal, a Acção Católica foi fundada em 1933, pelo episcopado, com uma orgânica de movimentos especializados, variável ao longo dos anos, sendo notório o propósito de compatibilizar o corporativismo social católico e o do Estado Novo.
LOC e JOC foram fundadas em 1935, destinadas ao mundo operário. porém, o militantismo obreiro de muitos dos seus dirigentes criou tensões com a hierarquia eclesiástica e com as autoridades política. Diversos episódios dessa tensão ficaram emblemáticos: o saneamento do então assistente nacional da LOC, Padre Abel Varzim, em 1948; a campanha presidencial de 1958, que mobilizou “locistas” e “jocistas” contra o candidato do regime; a submissão, em 1969, do Voz do Trabalho (jornal da LOC) à censura prévia. De certa maneira, a JOC funcionava como ramo juvenil da LOC, transitando muitos dos seus membros da primeira para a segunda , num processo de reprodução da velha cultura operária e sindical, reivindicadora, por exemplo, do pleno direito à greve .
A LOC faz parte do Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos, enquanto a JOC filia-se na Coordenação Internacional das Juventudes Operárias Católicas.
Em comparação com os círculos políticos oposicionistas, a JOC beneficiava, de uma relativa imunidade, porque a hierarquia eclesiástica acorria muitas vezes em sua defesa. «Quem vos toca toca na Igreja», declarava o cardeal Cerejeira aos jocistas ameaçados pela PIDE por ocasião do Congresso da JOC de 1951. Após as medidas repressivas desse ano sobre a JOC, o cardeal Cerejeira teria declarado a Salazar que o seu governo perdera, com essa atitude, os últimos operários que ainda poderiam apoiá-lo. Segundo o padre Jardim Gonçalves, a JOC terá servido à hierarquia da Igreja, como compensação do seu patente comprometimento com o regime de Salazar. Quando confrontado com acusações de a Igreja apoiar a política do regime ou tomar o partido dos poderosos, o cardeal-patriarca teria respondido: «Mas nós temos a JOC»
Segundo o testemunho de Jardim Gonçalves, a partir do final dos anos 50 e princípios de 60 opera-se, primeiro na JOC e depois na LOC, uma certa reviravolta na filosofia, objectivos e acção das organizações católicas de trabalhadores. Uma linha metodológica denominada revisão de vida vai, gradualmente, sobrepor-se à orientação até então preponderante. Preconizava-se, basicamente, um aprofundamento do método jocista sintetizado no lema «Ver, julgar e agir», que consistia em partir dos casos da vida real, para aí descobrir ou «ler» os «sinais dos tempos», e não, do modo oposto, de textos bíblicos ou esquemas fossilizados, para a análise da actualidade. Paralelamente, entusiastas desta nova linha com especiais preocupações sociais consideravam necessário um maior empenhamento dos militantes católicos junto da realidade operária e nas suas estruturas, nomeadamente nos sindicatos.
A Juventude Operária Católica é um movimento da Igreja Católica para jovens entre 14 e 30 anos, influenciado pelo humanismo de Jacques Maritain, pelo personalismo social de Emmanuel Mounier, pelo evolucionismo progressista do jesuíta Teilhard de Chardin, pela reflexão social dos dogmas de Henri de Lubac (jesuíta), pela teologia dos leigos do dominicano Yves Congar e pela teologia do trabalho de Marie-Dominique Chenu (dominicano).
Em 1923, foi fundada a JOC, em Bruxelas (Bélgica), por iniciativa do sacerdote belga Joseph Cardjin, padre oriundo de uma família operária. Esta experiência foi expandida para outros países até que em 1947, foi instituído o Movimento Internacional Jocista (JOCI), também sob a liderança do Padre Cardjin.
A JOC tem como missão: "a libertação dos jovens trabalhadores e trabalhadoras; ser testemunha da presença libertadora de Jesus e do projecto de Jesus Cristo no seio da classe operária."
A JOC era parte da Ação Católica, e elaborava numa concepção de fé dirigida à a realidade social, distinta de outras ações no interior da Igreja Católica. O seu propósito era o de ensinar o jovem trabalhado,r a viver uma vida completa e mais humana e a ser um corpo representativo que defendesse o direito dos operários. Desse modo o integrante da JOC deveria ser um apóstolo no próprio meio operário, construindo sua formação na e pela ação.
A JOC em Portugal teve início em 1935 e a sua ação propagou-se rapidamente e constituiu-se como o único movimento juvenil da Igreja Católica portuguesa até o Concílio Vaticano II. A JOC apoiou campanhas reivindicativas por direitos elementares dos jovens, muitos de seus integrantes tornaram-se militantes operários e cristãos, alguns dos quais, assumiram papel relevante na sociedade civil e no interior da própria Igreja.
No caso português, foi particularmente relevante a sua oposição à ditadura do Estado Novo.
A JOC continua a agir, uma vez que muitos jovens do meio operário sofrem com a precariedade, o desemprego, a insegurança, a dificuldade em encontrar sentido para a sua vida e também na Igreja. A JOC busca formas de atuar adequadas à sua situação, à cultura, à linguagem e à expressão dos jovens do meio operário, dando sentido ao seu lema:
"Ver, Julgar e Agir".
“ Nós não fazemos a revolução, nós somos a revolução! ” - Joseph Cardijn
Os católicos e os sindicatos
A participação de organizações católicas no meio sindical, intensificou-se em Portugal a partir dos anos 60, e acabaria por desempenhar um papel importante na conquista democrática de vários sindicatos (Bancários, Escritórios e Lanifícios) e no processo de constituição da Intersindical.
O pendor social da doutrina da Igreja, tem como principal referência histórica a encíclica Rerum Novarum (Das Coisas Novas): sobre a condição dos operários (1891), apontando a necessidade de melhorar a “miséria imerecida” das classes trabalhadoras e dignificar o trabalho, a partir dos valores cristãos.
É neste contexto que surge em Portugal, em 1933, a Acção Católica Portuguesa, à volta da qual gravitavam diversos organismos especializados, entre os quais a Juventude Operária Católica (JOC) e a Liga Operária Católica (LOC), ambas dedicadas ao mundo do trabalho.
Principais movimentos católicos:
-JAC/F (Juventude Agrária Católica/Feminina)
- JEC/F (Juventude de Estudantes Católica/Feminina)
- JIC/F (Juventude Independente Católica/Feminina)
- JOC/F (Juventude Operária Católica/Feminina)
- JUC/F (Juventude Universitária Católica/Feminina)
- LAC/F (Liga Agrária Católica/Feminina)
- LEC/F (Liga de Educadores Católicos/Feminina)
- LIC/F (Liga Independente Católica/Feminina)
- LOC/F (Liga Operária Católica/Feminina)
- LUC/F (Liga Universitária Católica/Feminina)
A Ação Católica congrega o conjunto de movimentos cristãos criados pela Igreja Católica no século XX, visando ampliar sua influência na sociedade, através da inclusão de setores específicos do laicado e do fortalecimento da fé religiosa, com base na Doutrina Social da Igreja. A Ação Católica, fundada em 1932 pelo Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, Atualmente, a Ação Católica Portuguesa já não tem uma organização formal, tendo a sua ligação através do FMAC - Fórum dos Movimentos da Ação Católica, que não funciona como a antiga junta central, que orientava os trabalhos dos Movimentos.
Fazem parte da Ação Católica: o MAAC - Movimento de Apostolado de Adolescentes e Crianças, o MCE - Movimento Católico de Estudantes, a JARC - Juventude Agrária Rural Católica, a JOC - Juventude Operária Católica, a LOC/MTC - Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, a ACI - Ação Católica Independente, a ACR - Ação Católica Rural e o MEC - Movimento de Educadores Cristãos.
Nota:
1.Em 2017, Jardim Gonçalves, doou 7500 livros do seu espólio, em 87 caixas, à Biblioteca Municipal de Machico, na Madeira, primeira paróquia onde exerceu a sua vida eclesiástica.
2. Em 2016, concelebrou eucaristia com o Papa Francisco, na sua capela no Vaticano, no dia em que assinalou o 60.º aniversário da sua ordenação sacerdotal.
Conclusão
Fica assim, de forma simples, evidenciada a vida e obra do Padre Agostinho Jardim Gonçalves (1932/2024), um ilustre e empenhado padre oriundo da Madeira, que marcou a sua vida nas causas sociais, particularmente no mundo do trabalho, na criação de movimentos operários cristãos ( mesmo no contexto limitativo e repressivo do regime anterior), em defesa dos direitos dos trabalhadores e na luta contra a pobreza, pugnando pela justiça social e pelos valores consignados na doutrina social da Igreja, em defesa de uma igreja participativa, conexionada com a realidade, atenta aos problemas sociais, numa leitura real e prática dos evangelhos, preocupada com a Sociedade e os direitos humanos.
Foi, em suma, um sacerdote de referência, na pastoral da igreja, um cidadão empenhado na defesa dos mais humildes, num percurso longo e marcante, em várias organizações e movimentos, nacionais e internacionais.
Bibliografia:
Agência Ecclesia
Sete Margens - Blog
Anuário Católico do Patriarcado de Lisboa
Agência OIKOS (ONG).
* Rui Gonçalves da Silva/jurista/assuntos laborais/Madeira/2025