* MARQUÊS DO FUNCHAL: breve referência histórica

 

MARQUÊS DO FUNCHAL : breve referência  à cronologia dos titulares deste título nobiliário

 

 

 

 

No elenco dos inúmeros títulos nobiliários da realeza portuguesa, consta o de Marquês do Funchal ( que sucedeu à atribuição de Conde do Funchal, concedido uma única vez e ao 1º Marquês do Funchal).

Por se tratar de título alusivo ao Funchal (Madeira), minha cidade natal,  desde logo, despertou-nos a atenção e a curiosidade de sabermos do seu histórico, origem e titulares. Assim sendo, desenvolvemos breve pesquisa sobre a temática e desse trabalho, de inventariação, resulta este apontamento simples e sucinto, que permite conhecer, no essencial, esta temática e o historial deste título nobiliário e dos detentores do mesmo.

 

Não se trata assim de estudo científico, mas de mera abordagem circunstancial ao tema, para identificar a origem e a cronologia dos títulos atribuídos e seus titulares e assim conhecer e registar este dado histórico, alusivo, de algum modo, à cidade do Funchal e em sentido mais lato, à Madeira.

 

Desde logo constata-se que a atribuição do título e das honras inerentes, alusivo à cidade do Funchal, não se refere a cidadão da cidade que se tenha distinguido e como tal a realeza quisesse enaltecer e distinguir. Por outro lado, é prática e costume, que uma vez concedido o título nobre, este seja objecto de transmissão no contexto da família em causa e assim sendo, usufruirão da distinção, outras pessoas, por mera herança e não por outro  mérito.

 

Parecer-nos-ia mais curial, que a atribuição de título nobiliário identificado com determinada localidade, fosse preferencialmente concedido a quem estivesse, de algum modo, ligado a essa localidade.

A designação de Marquês do Funchal, induz  a que associe   tal, a personalidade da sociedade local, relacionado, por obra, feito ou mérito, à cidade do Funchal.

Do que se sabe, dos cinco titulares do título nobre de  Marquês do Funchal, nenhum nasceu nesta cidade,  apenas um deles exerceu cargo, como Governador do Distrito.

 

Refira-se contudo, em abono de  tese que existe, ( pode ser lida, por exemplo, no rótulo de um conhecido Vinho Alentejano, designado "Marquês do Funchal", que a confirmar-se, dá outro sentido à criação e atribuição do título de Conde/Marquês do Funchal, uma vez que  o 1º Marquês do Funchal, terá tido um papel relevante, junto da coroa inglesa, em defesa da Madeira, e da sua manutenção na coroa portuguesa, quando da ocupação desta por tropas inglesas, que a pretexto da possibilidade de invasão francesa, por altura do bloqueio continental, ocuparam a Madeira. ( Nesse sentido e por mera especulação, se  persistisse tal ocupação, a Madeira teria pertencido  ao Reino Unido e teria sido  um caso idêntico a  Gibraltar).

Ou seja, o título nobiliário alusivo ao Funchal, poderá, segundo esta tese, ter por fundamento, o reconhecimento da acção do então diplomata português, que representou o reino em Londres, nomeadamente em função do seu contributo para que as tropas inglesas abandonassem a Madeira, terra então já conhecida pelas suas belezas naturais e pela amenidade do clima, e como tal procurada, entre outros, por nobres e  súbditos ingleses.

 

Outra nota a referenciar, é o uso e tradição, dos nomes dos fidalgos e nobres, serem completamente idênticos, entre pais, avós e netos, pelo que, no que se refere aos marqueses do Funchal ( cinco : 4  cavalheiros e uma dama), isso é flagrante, pela repetição dos nomes ( 2 Domingos e 2 Agostinhos), dificultando a pesquisa histórica, além de terem antepassados com nomes semelhantes.

 

CRONOLOGIA DOS TITULARES DE MARQUÊS DO FUNCHAL

 

O Título de Conde e posteriormente de Marquês, do Funchal, foi criado por D.Pedro IV ( D.Pedro I do Brasil).

A atribuição de Conde /Marquês do Funchal, distinguiu um ramo da família SOUSA COUTINHO, que eram Condes de LINHARES. Esta família remonta  a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, pai de D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho ( 1726-1780). Seu filho D. Rodrigo Domingos de Sousa Coutinho (1745-1812) foi o 1º Conde de Linhares.

A história da atribuição do título nobiliário alusivo ao Funchal, inicia-se com um filho deste, D. Domingos António de Sousa Coutinho (1760-1833).

 

D. DOMINGOS ANTÓNIO DE SOUSA COUTINHO

 

D. Domingos António de Sousa Coutinho (1760-1833) nasceu na cidade de Chaves e faleceu em Londres e foi o 1º Conde do Funchal e depois 1º Marquês do Funchal.

Esta ilustre personalidade, evidenciou-se na vida social e política portuguesa, através de uma carreira brilhante.

Licenciou-se pela Faculdade de Leis da Universidade de Coimbra, tendo contudo seguido a carreira diplomática, tendo estado, nessas funções em Copenhaga, Turim, Roma e Londres.

Foi regente do Reino ( de 26 de Fevereiro a 4 de Julho de 1821).

Foi-lhe atribuído o título de Conde do Funchal, por carta régia de 17/12/1808 e posteriormente foi elevado a 1º Marquês do Funchal, pela rainha D. Maria II em Junho de 1833, pouco antes da sua morte (Londres), como reconhecimento da sua acção e da sua carreira diplomática e política, em favor do Reino de Portugal, particularmente junto de Reino Unido. Foi destacado político e diplomata, evidenciando-se a sua acção num período conturbado, no contexto do conflito entre a França e a Inglaterra e do Bloqueio Continental  (1806) decretado por Napoleão Bonaparte (1769-1821), que proibia todas as Nações europeias de facultarem os seus portos e de não comercializarem com a Inglaterra.

Portugal desejava manter uma posição neutral, face à sua antiga  Aliança com os ingleses e de não querer hostilizar os franceses, mas tal não foi possível. Disso decorreram as três invasões francesas a Portugal(1807-1811) nas quais teve o apoio, em sua defesa,  das tropas inglesas.

 

D. Domingos António de Sousa Coutinho, teve um papel importante, não obstante posicionar-se em defesa da posição inglesa.

Com as invasões francesas, a família real portuguesa retirou-se para o Brasil ( D. João VI), sendo necessário a defesa dos interesses do Reino de Portugal, no contexto bélico e com a presença das tropas inglesas em território nacional e depois das tropas francesas, e neste quadro D. Domingos António de Sousa Coutinho, Conde do Funchal, distinguiu-se nessas funções e de representante do Reino.

Com as invasões francesas (para imporem o bloqueio continental) as tropas inglesas vieram em auxilio de Portugal e viveu-se um período de perda de independência e conturbação, num reino, com a sua Corte ausente no Brasil, com tropas estrangeiras (inglesas e francesas) e com domínio destas em diferentes  fases.

 

A Madeira, nesse período, foi ocupada a título de evocada protecção e apoio  ( sem ser solicitado) durante alguns anos, ( cerca  de sete anos) pelas tropas inglesas, primeiramente  de Junho de 1801 a Janeiro de 1802 e depois, de Dezembro de 1807 a Outubro de 1814.

Os portugueses, com o apoio de coordenação das tropas  inglesas, acabaram por expulsar as tropas francesas ( batalha do Vimieiro) e a Inglaterra derrotou a França, na Batalha de Waterloo (1815).

 

D .Domingos António de Sousa Coutinho foi, como se referiu, um importante elo de ligação, na defesa dos interesses de Portugal, tendo sido ministro de D.Pedro IV, em Londres, tendo sido decisivo nas negociações para os acordos de  Paz, que permitiram, posteriormente o regresso da família real, tendo a situação retomado a sua normalidade com a abdicação de D.Pedro IV ( 1º imperador do Brasil) em favor de  sua filha D. Maria II.

Nota: D. Domingos de Sousa Coutinho, quando ao serviço da embaixada de Portugal em Roma, acolheu e foi protetor do célebre pintor português  Domingos Sequeira e datam dessa fase as suas principais obras "descida da Cruz" (1827), "Adoração dos Magos" (1828), "Ascensão" (1828-30) e "Juízo Final" (1830).

 

                                                  Cronologia dos Marqueses do FUNCHAL

 

 - 1º Marquês do Funchal ( e 1º Conde do Funchal) - D. Domingos António de Sousa Coutinho ( 1760-1833).

 

- 2º Marquesa do Funchal : D. Gabriela Isabel de Sousa Coutinho ( sobrinha de D. Domingos A. de Sousa Coutinho) - 1825-1895

 

- 3º Marquês do Funchal - D. Agostinho de Sousa Coutinho ( 1866-1923) - Foi governador Civil do Distrito do Funchal ( duas vezes : 1º de 23/12/1899 a 25/6/1900 e depois de 22/10 de 1904 a 19/6 de 1905).

 

 Após a implantação da República, com o fim do sistema nobiliário, usam o título :

 

- 4º Marquês do Funchal: D. Domingos António de Sousa Coutinho ( 1896 -1984). Militar e cavaleiro. Medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Berlim, 1936.

 

- 5º Marquês do Funchal  (actual marquês, 2013): D. Agostinho de Sousa Coutinho ( nasceu em Évora, 1923).

 

 Neste breve apontamento, fica assim descrito e referenciado o essencial do historial da origem e atribuição do título nobiliário, de CONDE e  de MARQUÊS DO FUNCHAL, desde o 1º ( D. Domingos António de Sousa Coutinho) , até ao actual ( 2013) detentor deste título  -  5º Marquês do Funchal -  ( D. Agostinho de Sousa Coutinho) e desta maneira, simples e sumária, facultarmos o conhecimento deste título nobre e do seu histórico,  que poucos  conhecerão, sem prejuízo de a seu tempo e à medida do conhecimento de mais dados, podermos aprofundar e actualizar o assunto.

 Desta maneira, também  prestamos uma modesta  homenagem aos que com o título de Marquês do Funchal, prestigiaram a causa monárquica, Portugal , a cidade do Funchal e a Madeira.

 

 ( Funchal Agosto de 2013)

 

* Rui Gonçalves da Silva / Madeira