* TITANIC -100 ANOS :  memória a 4 madeirenses

 

 

14 de Abril de 2012 : CENTENÁRIO DO NAUFRÁGIO DO TITANIC - Madeirenses falecidos

 

Está na memória de todos nós, pela história, pelas conversas, pelos filmes, a tragédia do naufrágio do célebre navio "TITANIC", esse gigante dos mares que se afundou após colidir com um iceberg, na sua vigem inaugural, de SOUTHAMPTON (INGLATERRA) para NEW YORK (EU), em 14/15 de Abril de 1912, no qual faleceram 1.523 pessoas ( no total de 2.240 passageiros e tripulantes).

 

Esse navio épico, o esplendor da técnica e do  arrojo da engenharia naval da altura, majestoso e imponente nos seus 269 metros de cumprimento, mas que mau grado tudo, por erro de navegação, por falha humana ,embateu com um iceberg, lateralmente ( estibordo), provocando um rasgo longitudinal, fissurando os vários compartimentos estanques, permitindo a entrada de água e a queda primeiro de proa, partindo-se ao meio e depois tombou a popa, sepultando o colosso do TITANIC a 3.800 metros de profundidade e com ele tantas vidas.

 

O TITANIC tinha mais dois navios gémeos : O OLIMPIC e o BRITANIC, todos construídos, nos estaleiros de Belfast (Irlanda do Norte) para as grandes viagens atlânticas, sobretudo para os Estados Unidos.

 

Não registo aqui esses imensos pormenores da viagem e do naufrágio do TITANIC, dos dramas vividos pelos sobreviventes, do sofrimento e da ângustia dos que faleceram, numa viagem que prometia ser de sonho e encanto, num navio pleno de inovação, sumptuosidade e magia, uma vez que proliferam relatos, descrições, lendas e histórias, que dão conta de tudo isso.

 

Retenho apenas um aspeto que destaco nessa epopeia trágica : no memorial e no registo dos passageiros e sobretudo na lista dos falecidos, do TITANIC,  constam 6 (seis)portugueses, a provar que nos principais acontecimentos, mesmo dolorosos, como este, existe sempre um português, e neste caso, 4 (quatro) eram oriundos da Madeira,  uma senhora dos Açores, e um  do Continente, pessoas que buscavam oportunidades de vida e de trabalho, no novo mundo, nessa luta de sempre por um futuro melhor, nos rumos da emigração.

E quatro homens desta Ilha (Madeira), um do Continente e uma senhora dos Açores, portugueses de fibra, lá estavam entre tantos passageiros, e viram o seu sonho amputado, no tumulto  deste naufrágio.

Eram pessoas simples, homens do campo, da vida agrícola, das zonas rurais, que buscavam sorte e fortuna, uma oportunidade de vida, mesmo que longe, que isso implicasse custos elevados, uma viagem para Inglaterra, para depois embarcar para o seu destino : América e o Brasil.

E ficam os seus nomes, como memória :

 

- JOSÉ NETO JARDIM, casado, 1 filha, 21 anos, agricultor, natural do Arco da Calheta (Madeira)

- MANUEL GONÇALVES ESTANISLAU, casado, 38 anos, agricultor, cinco filhos,  da Calheta (Madeira)

- DOMINGOS FERNANDES COELHO, 20 anos, agricultor, solteiro, da Madalena do Mar.(Madeira)

- MANUEL FRANCO  - chapeleiro da Calheta ( Madeira) - casado com Álvara Bitancurt

- ÁLVARA BITANCURT , dos Açores

- JOSÉ JOAQUIM BRITO, comerciante radicado em Londres ( do Continente)

 

Estes passageiros portugueses,  viajavam em 3ªclasse e iam para os Estados Unidos, contudo o do Continente,  viajava  em 2ª classe e depois de fazer escala em New York iria para S. Paulo (Brasil).

 

Em Abril de 2012  ocorreu o centenário desta tragédia, tempo de lembrar todos os que sucumbiram neste naufrágio e também dos sobreviventes ( que já faleceram), registando o facto de nesta história, se incluir os 4 portugueses da Madeira, a quem presto a minha homenagem e o reconhecimento do espirito de luta e de iniciativa, que os levou a enfrentar a distância e o desafio de uma viagem por mundos novos, humildes cidadãos  desta terra e exemplos de vida, que o drama das suas mortes, e todos os dramas vividos na história de cada um dos náufragos, seja lembrado, particularmente daqueles anónimos, passageiros de 3ª classe ou do porão, que até na morte foram discriminados, pois não tiveram acesso a meios ou possibilidade de salvamento. Dói-me saber que tantos sonhos foram decepados, pela incúria, pela soberba e a arrogância de uns, e tanta gente morreu, sem entender a razão dessa atrocidade. Inquieta-me todos os dramas e a dor dos que ninguém lembra.

Em Maio de 2014 foi publicado postumamente, de uma professora Açoreana, Luisa Franco, mais um livro sobre  este naufrágio - A Montanha e o TITANIC -  onde  narra a história dos seus avós  - Manuel Franco e Álvara Bitancurt - falecidos nesta tragédia. Neste historial é referido que sua avó - Álvara Bitancurt, acoreana - foi até à Madeira, para daí partir para Inglaterra, onde embarcaria com destino a América. Contudo, na Madeira, conheceu e apaixonou-se por um madeirense - Manuel Franco. Casaram, tiveram um filho (Tomás Franco) e posteriormente o casal partiu para Inglaterra,  onde no TITANIC embarcaram, nessa viagem trágica, com intenção de chegarem aos Estados Unidos, essa terra mítica dos sonhos, na procura de uma vida melhor. Infelizmente, o acidente, não permitiu a concretização desse desejo.

Fica patente que a história do naufrágio do TITANIC, como de tantos outros acontecimentos, é feito de dramas de tanta gente anónima, que o tempo esquece e a memória dos homens evidencia apenas o lado sumptuoso dos mais importantes e esquece os demais, sobretudo o mais simples, como é o caso dos portugueses e nestes, os da Madeira.

 

Desde 2012 existe em Belfast , um museu evocativo do Titanic - Titanic Belfast - que é uma atração turística, um monumento a lembrar esta tragédia, erigido no local do antigo estaleiro naval.

Por isso, aqui registamos a lembrança e a memória destes portugueses , da Madeira, dos Açores e do Continente, que perderam a vida e os seus sonhos, nesta tragédia, sepultados no silêncio das águas gélidas do Atlântico Norte e sobretudo no esquecimento dos homens e da história.

  

Rui Gonçalves da Silva /Madeira

 

Nota de atualização: A tragédia do "Titanic" parece ter alguma continuidade. Em18 de Junho de 2023, uma expedição para ver os destroços do  navio, levou 5 pessoas ( pagaram mais de 250 mil euros cada par esta incursão nas profundezas do Atlântico) , num pequeno submersível de 7 metros, tentando chegar a profundidade de 3.800 metros ( local onde poisam os destroços), porém a operação correu mal tendo ocorrido implosão do pequeno submarino e como tal faleceram todos os seus ocupantes.


A 1 de setembro de 1985, uma equipe de oceanógrafos comandada pelos franceses Jean-Louis Michel e Robert Ballard conseguiu localizar os destroços do Titanic valendo-se de um sonar com varredura lateral.

O Titanic afundou em 1912, quando atingiu um iceberg durante sua viagem inaugural. Os destroços não foram localizados na época e não foram descobertos até 1985. Inúmeras expedições tentaram usar sonar para mapear o leito oceânico na esperança de o localizar, mas sem sucesso. Os destroços foram finalmente localizados por uma expedição franco-americana liderada por Jean-Louis Michel do IFREMER e Robert Ballard da Woods Hole Oceanographic Institution.




Nota: foto real, do TITANIC, ao que consta , esta terá sido a derradeira foto, no inicio da viagem