* IMPERATRIZ SISSI de Austria e a Madeira



A Imperatriz SISSI e a Madeira

Esta não é uma crónica, nem qualquer historiografia da imperatriz SISSI, é uma simples impressão pessoal, um olhar pela sua vida, mas sobretudo pela sua pessoa, independentemente do seu estatuto, apenas como ser inquieto e sofrido, que passou e esteve em sitios que são também locais da minha vivência. Daí este olhar, este registo, do que me sensibiliza nesta personagem, que passou inquieta e intranquila por esta vida, com tantos sonhos por realizar, apesar de rainha.

A vida desta imperatriz é fascinante. Por ela, pela sua postura, pela sua beleza, pela sua irreverência na rejeição dos formalismos da Corte, pela sua inquietude, pela busca de uma felicidade algo espiritual, pela procura incessante de si própria, quando podia, pura e simplesmente, usufruir de todos os privilégios do seu estatuto, que lhe permitiam ter tudo, no que isto tem de posse, de luxo.

Elisabeth Amalie Eugenia Ostererreich-Ungan, conhecida como Isabel da Bavária e posteriormente, como Sissi, casada aos 16 anos com o Imperador Francisco José I, teve uma vida plena de romance, no afecto dessa relação, mas ao mesmo tempo, o seu trajecto de vida deu-lhe dissabores, entre os quais a morte da sua filha Sofia de 2 anos e depois do seu filho Rodolfo e o até o seu fim trágico, aos 60 anos (Setembro de 1898) vitima de assassinato por um anarquista italiano, em Genebra.

Neste registo breve, apenas evidencio o que me seduz na vida desta imperatriz, que sempre pairou no meu imaginário, porque dela sempre ouvira falar, com o encanto das princesas e das vidas mágicas, quer por ter estado na Madeira, duas vezes, minha terra natal, quer por mais tarde, nos percursos pela Europa romântica pela Àustria (Viena) pela Hungria (Budapeste), sempre sentir o seu passado, bem presente na memória histórica destes povos, e depois, nas minhas várias estadias em Genebra, onde muitas vezes olhei o lago Lemam, junto da lápide evocativa do exacto local do seu assassinato e na escultura esguia que lembra a sua altivez, nos jardim de Genebra, ou mais recentemente, na evocação escultórica que se ergue no Funchal, nos jardins anexo ao Casino.

Esteve na Madeira, pela primeira vez em 1860/61 - de Novembro a Abril - no esplendor dos seus 26 anos e encantou todos com a sua beleza, com a sua bondade mas também revelando alguma melancolia e tristeza. Procurava nesta terra a amenidade do clima, para escapar aos rigores do Inverno da Europa Central e recuperar da sua doença pulmonar, mas também libertar-se da vida agitada da Corte, buscando nas viagens, nas ausências, ao que se supõe, o conforto e apaziguamento da sua perpétua inquietação, da sua angustia, como expressou nos seus versos " ando solitária sobre a terra há tempo, alienada da vida e do prazer, não tenho nem nunca tive alma que me entendesse ".Mais tarde, aos 56 anos, esteve novamente na Madeira ( 1893), mas era outra pessoa, marcada pela idade e o sofrimento e vestida de preto pelo eterno luto pelo seu filho Rudolfo.

"Uma gaivota sou, de terra nenhuma, não chamo pátria a nenhuma praia, não me prende terras ou lugares, eu vou de onda em onda", outros versos seus, que gritam a sua mágoa, a sua sede de outros lugares, a sua persistente procura, revelando a sua ânsia de viver, para além dos rituais da Corte, mas na liberdade dos seus sentimentos.

A sua vida foi ficcionada, no cinema, como SISSI, a imperatriz da paixão, do sonho, da beleza,através de Romy Schneider, outra mulher singular, na arte e na vida, que emprestou assim outro fascínio e sedução à sua vida.

A imperatriz SISSI, está bem presente na Madeira, como depois o seu sobrinho Carlos I de Áustria, ultimo imperador, aqui falecido e sepultado(1922) ,bem como a sua esposa a imperatriz Zita que faleceu em 1989 em Viena, acentuando a forte ligação dos Habsburgos a esta terra.

Da imperatriz SISSI a memória de uma senhora fora do seu tempo, desencontrada de si, pelo desajustamento dos limites da sua condição, um pássaro em gaiola dourada, que amava mais que tudo a sua liberdade, os seus sonhos, sedenta de paz, amor, compreensão, que viveu na procura de outro lugar e outro modo de ser feliz, sem realizar o essencial dos seus sonhos, até ao fim: " Gostaria de partir deste Mundo, como um pássaro ou uma nuvem de fumo" e nem isso aconteceu, ou talvez sim.

Por isso, quando passo pelo jardim, perto de onde ela também passou, imagino que há uma flor, igual a uma qualquer outra que ela contemplou, porque a vida é feita de memórias, passe o tempo que passar e sobretudo de encantos e sentimentos.

Podemos sentir a luz de uma estrela do céu, por mais distante que ela esteja, ou entender o silêncio de uma nuvem ou o sussuro de uma gota de água,ou a dor de alguém que não está presente, mas paira, algures, por aí, nos sinais ocultos que deixou.

* Rui Gonçalves da Silva /Madeira