* Arte Flamenga na Madeira

A Arte Flamenga na Madeira

Não vamos aqui abordar de forma técnica e profunda, a arte flamenga na Madeira, apenas pretendemos, como usualmente elaboramos neste nosso espaço, apresentar um singelo apontamento circunstancial, alusivo a esta temática, apenas com a preocupação de destacar e evidenciar esta realidade, no contexto cultural desta Região, um olhar genérico e apelativo para o essencial desta matéria.

E nesta ordem de preocupações, esta referência, à arte flamenga na Madeira, centra-se essencialmente, no acervo existente no Museu de Arte Sacra do Funchal, em relação ao qual, queremos evidenciar este património cultural regional - embora com dimensão internacional dada a importância da arte flamenga - e particularmente do núcleo de pintura que existe no referido Museu, muitas vezes desconhecido da generalidade das pessoas, quer da Região, quer do País, mesmo de alguns que se interessam pela temática cultural.

A arte flamenga está representada na Madeira, de forma única e com grande expressão, mercê do desenvolvimento económico, decorrente do período aúreo da produção sacarina/açucareira insular, particularmente nos séculos XV e XVI, com as exportações desta, no designado ciclo do "ouro branco", para a Flandres, que possibilitou a aquisição de muitas obras de arte - pintura, escultura e ourivesaria - no auge do domínio dos artistas flamengos na arte europeia da época.

Assim, muitas obras da arte flamenga foram adquiridas pelos mercadores locais, o que possibilitou a constituição de um importante acerco de arte flamenga na Madeira, obras que inicialmente estavam em capelas, igrejas, conventos e na posse de particulares, mas que posteriormente, com a criação do Museu Diocesano de Arte Sacra do Funchal - fundado em 1955 - estão reunidas em exposição permanente no referido museu.

O manancial de arte flamenga, existente nesta Região insular, representa pintores e escultores de nomeada - Dieric Bouts, Gérard David, Joos Van Cleve, Jan Provoost, Pieter Coeck Van Aelst, Jan Gossart e mestres anónimos - dispondo assim o Museu da Madeira, de um importante e valioso património histórico e cultural de arte flamenga, particularmente de pinturas de grandes dimensões, triptícos e quadros de rara beleza e expressão, com representações de natureza religiosa e litúrgica, com predomínio para cenas bíblicas, do nascimento de Jesus, da anunciação, da crucificação de Cristo, da ressureição, todo um universo de crença e fé, como era corrente ao tempo e expresso nas grandes obras clássicas.

A arte flamenga está assim muito bem representada na Madeira, em quantidade e qualidade, para surpresa de muitos, sendo o Museu de Arte Sacra do Funchal, uma referência mundial na matéria e constituindo um factor distintivo da museologia local e nacional, o que enobrece e valoriza a Região sob o ponto de vista cultural.

Sendo a Madeira uma região turística, conhecida sobretudo pelo seu clima ameno, pela beleza das suas paisagens verdes e tranquilas, pelo esplendor da sua natureza e pela afabilidade das suas gentes, é também importante evidenciar-se a dimensão cultural de vários eventos e atractivos, sendo no plano museológico, a par de outros,( p.-e. o Museu Casa das Mudas, Museu de Arte Contemporânea, Museu Frederico Freitas, Museu do Açúcar ) é de destacar o Museu de Arte Sacra do Funchal, pelo valor e raridade da sua coleção de arte flamenga, o nível da das peças de ourivesaria ( peças de índole religiosa e da litúrgia católica), da escultura ( peças de ícones religiosos) e sobretudo da pintura da escola flamenga ( quadros pintados a óleo em madeira) e também da escola portuguesa, aconselhando-se vivamente, uma visita a este Museu, que certamente será uma excelente surpresa, pela harmonia, pela qualidade, pela dimensão e espiritualidade do seu acervo artístico, pela importância e valor das obras expostas.

* Rui Gonçalves da Silva - Março de 2017